I
Sentado na minha cama contemplando o meu retrato…
Gordo como um panda menos de um ano,
Tudo a preto e branco, do mundo bem desligado
Meu mundo um paraíso saudades de o ter deixado.
Sem preocupações nem ao menos correrias,
Sem muitas ilusões, fórmulas e teorias
Sem muitas ilações, mentiras da maioria
Nem velada ditadura da nossa democracia.
O tempo tem passado, o crescimento tem chegado
O rosto tem mudado como as estações do ano,
De barbas, adornado é floresta todo o lado,
A visão deformada óculos, complementando.
As rugas espreitando nunca pedem permissão,
Na casa deste homem que não vê televisão,
Mas não para o tempo, não dá pausas para ninguém
Nunca é rápido nem lento, no retrato me detenho.
Não tinha este rosto esta vida mergulhada,
Nas águas mais profundas da guerra quotidiana,
Instinto violento pelas perdas e derrotas…
Tantas tentativas mudanças de rotas…
De porta a porta vou batendo à procura,
Daquilo que eu anseio para doença a minha cura,
Encontra quem a busca, mas o tempo não recua
Faço da minha pausa uma estratégia de luta.
Refrão
(Reclens)
Eu olho para o passado e vejo as marcas em mim,
O meu futuro está traçado e só me resta seguir,
Este meu retrato, este meu retrato
Este meu retrato, este meu retrato.
II
Hoje eu olho para minha face e faço muitas perguntas,
O que me estou tornando em cumprimento ou altura?
O que me faz distante do menino na figura?
O que me faz tão perto de uma alma insegura?
Será que estou mais forte apesar da postura?
Será que estou mais doce com todos que me procuram?
Será que estou olhando cada homem com candura?
Na cultura dos adjectivos, (...) nomenclatura?
Quanta agitação, indecisão e negligência?
Relações falhadas, nostalgia, vida densa?
Dúvida e impotência, certeza e incerteza?
Sem pontos de referência, orgulho e prepotência.
Daqui há pouco tempo o cabelo branco já chega,
E alguns ainda acham que não se deve ter pressa…
Mano, acorda não há tempo para tudo,
Eu faço o que me interessa, o que para Deus é justo.
O que é bom e culto, o que ilumina a cidade
Irradia a saliência da nossa comunidade,
Apesar do mal que estimula a intolerância,
Quebrando a harmonia e a beleza desta pauta.
Vou aprender a amar em cada dia que desponta,
Os que me são caros e não vou poupar as forças,
Não vou perder o tempo, vou sorrir diariamente
Como o puto no retrato com semblante inocente.
Refrão (2x)